A desigualdade de gênero ainda existe e cria vários obstáculos para as mulheres no mercado de trabalho. Eu trouxe aqui alguns dados que ajudam a mostrar porque essas questões, longe de resolvidas, são mais urgentes do que nunca.
UM POUQUINHO DE CONTEXTO
As mulheres são maioria da população no Brasil. Vivem mais tempo, têm mais educação formal e ocupam 44% das vagas de emprego registradas no país.1 No entanto, o número de mulheres desempregadas é 29% maior que o de homens. E quando falamos das posições de liderança, embora a porcentagem de mulheres CEOs no Brasil tenha crescido de 5% em 2015 para 16% em 2017, elas ainda representam apenas 2,8% dos cargos mais altos.2
Pode ser que você já tenha visto essas informações, mas talvez ainda não tenha parado para entender a fundo as barreiras enfrentadas por uma mulher que tenta se desenvolver profissionalmente e construir sua carreira no Brasil.
Para ajudar a entender melhor e eliminar essas barreiras dentro da sua empresa, que tal dar uma olhada no que os dados dizem sobre o assunto?
EQUIPARAÇÃO SALARIAL: temos mesmo que esperar um século?
Cem anos. De acordo com o relatório do último Fórum Econômico Mundial, esse é o tempo estimado para que a diferença salarial entre homens e mulheres desapareça. Atualmente, elas recebem 74,5% do salário dos homens ocupando os mesmos cargos.3
Entre 2013 e 2017, as buscas no Google por “desigualdade de gênero no mercado de trabalho” cresceram 451% e por “mulher ganha menos” aumentaram 298%.4 Isso sugere que apesar do caminho em direção à equidade de gênero ainda ser longo, elas estão cada dia mais interessadas pelo assunto e conscientes dessa urgência.
Por outro lado, a consciência sozinha cria um mecanismo de pressão? Em teoria, não. Mas é um bom ponto de partida para pensar em iniciativas que empoderem as mulheres para irem atrás do que lhes é de direito.
MATERNIDADE: é justo ter que escolher entre filhos e carreira?
A americana Maya Angelou, escritora, ativista de direitos civis e historiadora, disse que a esperança e o medo não podem ocupar o mesmo lugar.5 Certamente não estava descrevendo o mercado de trabalho, mas poderia representar o que muitas profissionais brasileiras sentem na pele quando decidem ser mães.
As buscas por “congelamento de óvulos “ cresceram 89% nos últimos cinco anos – 25% somente no ano passado – e servem como um belo indicativo de que, mesmo as mulheres que querem ter filhos, ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades enquanto tentam conciliar carreira e família. A procura por termos relacionando demissão, estabilidade e licença maternidade cresceu mais de 300% nos últimos 5 anos.6
Já as buscas por “MEI licença maternidade” cresceram mais de 700%, sugerindo que um grande número de mulheres considera abraçar o empreendedorismo depois de serem mães.7 Os dados da pesquisa Mulher Empreendedora realizada pela Robert Half em 2016 confirmam essa hipótese, revelando que, em 85% das empresas brasileiras, metade das profissionais deixa o emprego após o nascimento do primeiro filho.8
É um bom momento para as empresas que já perceberam que, para não perder mão de obra qualificada, é preciso fazer algumas transformações no ambiente corporativo. As mulheres são capacitadas e não querem ficar paradas. A exemplo disso, a busca por ‘empresas que contratam grávidas’ cresceu 221% entre 2015 e 2017.9
ASSÉDIO NO AMBIENTE DE TRABALHO: 2018 e ainda precisamos falar disso
Se um comportamento deixa alguém desconfortável, ele precisa ser repensado. Observando as pesquisas no Google, vemos um forte movimento nessa direção: as co-buscas (pesquisas realizadas em um intervalo de 30 minutos) sobre assédio e machismo dobraram de 2016 para 2017.10
No último ano, vimos o início do que pode vir a ser o debate definitivo para estabelecer mais segurança para mulheres em seus ambientes de trabalho. Movimentos como Time’s Up e Me Too partiram de Hollywood trazendo à tona histórias e nomes para mostrar que nenhuma indústria está livre do problema. Dentro do tema, “assédio moral no trabalho” é atualmente o 2º termo mais buscado no Google. O lado positivo disso? Está cheio de gente tentando resolver o problema. Só em janeiro de 2018 mais de 1000 vídeos sobre o termo “mansplaining” (quando um homem se propõe a explicar as coisas para uma mulher, assumindo automaticamente que, por ser mulher, ela não tem conhecimento ou compreensão do tema) foram publicados no YouTube para ensinar as pessoas sobre a importância de respeitar o espaço, a voz e a vez delas.
REPRESENTATIVIDADE : inspiração para ir mais longe
Mulheres são mais educadas formalmente e mais qualificadas para as vagas de emprego. Elas representam 55,1% das universitárias e 53,5% do total de alunos de pós-graduação, de acordo com o IBGE.11 Apesar disso, uma pesquisa da HP mostra que elas só se candidatam para uma vaga se forem capazes de preencher todos os pré-requisitos. Já os homens mandam o currículo com apenas 60% das habilidades exigidas.
Mas elas estão cada vez mais engajadas em reivindicar os espaços que podem – e devem – ocupar nesse processo de transformação do mercado. A expressão “empoderamento feminino” foi 4x mais buscada em 2017 do que em 2012. Quando falamos de “empoderamento feminino no mercado de trabalho”, são mais de 459 mil resultados.
Há um interesse constante e crescente em descobrir maneiras, informações e outras mulheres que possam inspirar essa transição.
“AJUDA NÃO VALE”: uma divisão de tarefas mais justa é fundamental para a mudança
Mas o mercado de trabalho não é o único desafio: ainda existe a questão da dupla jornada. Um levantamento recente da Oxfam mostra que ter um emprego e ser a maior – às vezes, a única – responsável pelos afazeres domésticos e cuidados com a família, ainda é a realidade da maioria das mulheres no mundo.
Para ilustrar o que isso significa, segundo o estudo, se fôssemos remunerá-las por suas horas de trabalho em casa, seriam injetados 10 trilhões em dólares na economia mundial.12 Com uma maior parceria dentro do ambiente familiar, mais mulheres conseguiriam se dedicar à conquista dos cargos que sonham.
FAZENDO PARTE DA MUDANÇA: vamos acelerar essa transformação?
As soluções em prol da igualdade de gênero podem surgir de onde menos esperamos. Na prática, algumas ações básicas (e até mesmo óbvias) ajudam a encurtar essa jornada. Em um processo seletivo, por exemplo, é importante ter em mente que esse é um momento fundamental de trazer mais diversidade para seu time. As empresas em que mulheres ocupam pelo menos 30% dos papéis de liderança são 1.4 vezes mais propensas a ter um crescimento contínuo e lucrativo.13
Assim, que tal incentivar mulheres a candidatarem-se para as suas vagas? Dê chance para que elas possam mostrar o seu trabalho, avalie as candidatas única e exclusivamente pela sua competência profissional. E se você for líder de uma mulher, incentive-a a ir ainda mais longe na carreira, ofereça oportunidades de crescimento e dê o devido crédito quando o trabalho for dela. Estimule diálogos abertos e honestos sobre igualdade de gênero, onde todos tenham espaço para errar, aprender, questionar e pedir ajuda.
Cabe a todos nós estimularmos a mudança de consciência dentro das empresas. Talvez o mais importante seja percebermos que, todos nós, de alguma forma, ainda somos parte do problema. Ninguém está livre de ter algum tipo de viés, e estarmos atentos a isso já é um passo rumo à transformação. Vamos juntos!
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