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Mulheres no Esporte: o tabu e a história por trás da pouca representatividade feminina

Por Lívia Faria — Rio de Janeiro

Todos os dias, mulheres no mundo todo enfrentam obstáculos pelo simples fato de serem… mulheres. No esporte, não é diferente. A prática de exercícios físicos por mulheres no país é 40% inferior aos homens, segundo o relatório “Movimento é Vida”, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – um indicativo de que o cenário esportivo ainda tem muita desigualdade de gênero. Na semana do Dia Internacional da Mulher, o Esporte Espetacular ouviu algumas histórias importantes, que poderiam até ser consideradas lugar comum, mas não deveriam. Um artigo complementar do relatório do PNUD explica a menor participação feminina no esporte e as possíveis soluções para reverter esse quadro.

A professora e pesquisadora da Unicamp, de Campinas, Helena Altmann é quem escreveu o artigo complementar “Atividades Físicas Esportivas e Mulheres no Brasil”. Ela lembra que na legislação brasileira, no período da ditadura militar, esportes como o jiu-jitsu já foram proibidos para mulheres.

“Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país” (DECRETO-LEI Nº 3.199, DE 14 DE ABRIL DE 1941)

Em 1965, o Conselho Nacional de Desportos deliberou:

2. Não é permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, pólo, rugby, hanterofilismo e baseball.

Mas a história da legislação brasileira é só um indicativo da pouca quantidade de mulheres com acesso a atividades físicas e esportivas no Brasil. Vários recortes foram feitos nas pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU) para mapear a prática de esporte no país. Entre eles a renda – quanto menor o recurso financeiro, maior a diferença de participação esportiva por gênero.

A cultura de não incentivar as mulheres aos esportes, principalmente coletivos, pode ser explicada inclusive pelo pouco acesso ao lazer devido às tarefas domésticas, que ocupam em média 20,5 horas semanais das mulheres, enquanto os homens gastam 10 horas por semana nas atividades de casa.

– Em 2016, no município de Campinas, as pessoas matriculadas em projetos financiados com verba pública, aproximadamente 84% são meninos e os demais são meninas. A gente vê uma desigualdade de acesso grande. Seria necessário alguma política que conduzisse esse processo com inserção das meninas – disse Helena.

Enquanto o país não conta com esse apoio político no Esporte, algumas organizações não Governamentais, como o Empodera – Transformação Social pelo Esporte, do Rio de Janeiro, estimulam a prática esportiva como uma ferramenta para discussões de gênero, fortalecendo meninas e mulheres.

     

– Elas são agentes de transformação. A gente usa o esporte como meio de transformação da realidade – contou Jane Moura, presidente da ONG Empodera.

Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas é um dos dezessete objetivos para o desenvolvimento sustentável de acordo com a cúpula das Nações Unidas. O esporte e a educação são ferramentas poderosas, mas o respeito certamente é a base de todo esse processo.

– Perguntaram na minha escola o que você quer ser no futuro. Eu queria praticar vôlei e seguir carreira. E ouvi: “mas você joga vôlei? Não sabia que mulher podia jogar vôlei”. Eu parei e refleti: como assim mulher não pode jogar vôlei em pleno século XXI? Muitas vezes a gente escuta “esporte não é lugar de mulher”. Esporte é lugar de mulher sim. Lugar de mulher é onde ela quiser – concluiu Sara Vieira, de 16 anos.

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